domingo, 26 de dezembro de 2010

PATRIMÓNIO E QUIMERAS



Estes são os Pegões Altos, o sector mais vistoso do aqueduto de 6 quilómetros que fornecia água corrente ao Convento de Cristo. Mandado construir pelos Filipes, os reis espanhóis, ao arquitecto italiano Filippo Terzi, foi inaugurado em 1614. A sua construção resultou do facto de Filipe II, o herdeiro legítimo do trono, em virtude da morte de D. Sebastião, ter ficado horrorizado por não haver água corrente no Convento, aquando da sua aclamação como rei de Portugal, nas Cortes de Tomar de 1581.

Fala-se muito ultimamente num plano de pormenor para os terrenos limítrofes, coisa para mais de cem hectares, 1140 camas em aldeamento, 240 camas num hotel, campo de golfe de 18 buracos, e o mais que depois se verá. Tudo obra de privados. Oxalá avance e depressa, que assim à primeira vista não passa de mais uma quimera para ir mobilando a paupérrima cena política local e entretendo os eleitores. Como o célebre Parque Temático, o Hotel de Charme de 60 quartos, a Urbanização da Quinta da Granja, o Hotel no Largo do Pelourinho ou o Parque da Cidade. Pois se um outro projecto semelhante, ali para os lados de Vila Nova, na freguesia da Serra, há mais de 18 anos que anda pela Câmara, de serviço em serviço, a aguardar pareceres de entidades locais, regionais, nacionais e comunitárias...


Entretanto, o que nos vai valendo é termos uma população muito educada, muito consciente, muito respeitadora dos seus deveres cívicos, corajosa defensora do ambiente e, bem entendido, muito ciosa da limpeza dos locais classificados, como mostra a fotografia supra. Eram lá capazes de ir despejar lixo junto de um monumento nacional com perto de 400 anos!


E também são extremamente honestos. Nunca roubam nada que lhes pertença, salvo  material dos monumentos que são de todos, como estas lajes de cobertura, certamente por ignorância. O mesmo aconteceu aos 4 piramidões que ornavam os ângulos superiores da casa da água. Onde é que eles já estarão!


Entretanto, os senhores dirigentes do IGESPAR, embora proclamando que o Aqueduto faz parte do Convento, continuam muito descansados nos seus gabinetes do Palácio da Ajuda, enquanto o monumento se vai degradando. A fotografia mostra uma parte da cúpula da casa da água mais a nascente, já quase sem vestígios da pintura original, com infiltrações por todo o lado e o reboco que começa a cair. Um dia destes vai obedecer à lei da gravidade. Depois dirão, como é costume, que ninguém podia prever uma coisa assim.

Aspecto da parede nascente da mesma casa da água, vendo-se uma pequena parte da pintura que a ornava. Como isto já foi e ao que agora chegou! As outras casas da água estão no mesmo estado. A dos Brasões, mais ampla e imponente, até já tem árvores na cúpula, que aprentemente não incomodam ninguém. Nem o IGESPAR, cujos técnicos provavelmente nem sabem, porque nunca lá foram -que aquilo fica muito fora de mão e é de acesso difícil- nem a câmara, pelas mesmas razões. É mais fácil e mais útil para a campanha eleitoral ir arranjando e adjudicando obras faraónicas, mesmo sem grande utilidade, desde que, como diziam alguns construtores do século passado "volumudas". De milhões de euros, em linguagem actual. Está-se mesmo a ver porquê. Assim vamos longe, não haja dúvidas! Mas vamos andando, lá isso vamos!

14 comentários:

Funiculin disse...

E depois o Dr. Rebelo é que é má língua... Será que aquilo que aqui é apresentado não são factos reais? Ou será alguma composição fotográfica de "má fé"? Hoje com as novas tecnologias tudo é possível. Pelos vistos para alguns, o Dr. Rebelo não tem razão no que vai fotografando e escrevendo. Quem será o ilustre cobardolas que irá conseguir demonstrar precisamente o contrário do que aqui é apresentado? O que dirão os parasitas políticos e técnicos da Câmara Municipal de Tomar? É certo que se acobardam face às suas incompetências, mas para ir sacando a massa estão por alí, essa não poderá falhar. Quem tem a coragem de desmentir estes factos?

Anónimo disse...

“Se a União Europeia se preocupasse mais com as coisas concretas que dizem respeito a pessoas concretas, em vez de andar em jogadas políticas que só interessam a alguns, certamente seria menos motivo de riso e estranheza” – Fernanda Leitão, “O Templário” (23 de Dezembro de 2010)
Professor, Fernanda Leitão tem razão. Estamos perante um 'drama' geral. Cá por Tomar, é o que se vê. Aqueles que criticam o Professor por dizer verdades, ou estão muito bem na vida ou vivem indiferentes ao que os rodeia, não olham para o lado, só pensam neles próprios. As obras em Tomar estão à vista de todos. Não haverá uma que não tenha que ser remendada pouco depois de inaugurada. É uma vergonha! Onde está a responsabilidade?
Quando é que os portugueses dizem basta?
Zé Esperança

HC disse...

Prof. Rebelo,

Passei mesmo só para desejar umas boas entradas, com os votos de que mantenha o espírito atento e crítico, e de quando em vez, olhando um pouco mais para o lado positivo das coisas :)

Um abraço deste seu optimista amigo

Unknown disse...

Para o muito prezado amigo e conterrâneo Hugo Cristóvão:

Obrigado pelos seus votos, que sinceramente retribuo. E já agora aproveito para lhe fazer um pedido: Por favor, indique-me com a urgência possível como, quando, onde e a que horas é que posso encontrar esse lado positivo das coisas, que menciona no seu comentário. É que eu até me considero um optimista, quase sempre sorridente. Infelizmente, até agora só encontrei duas coisas positivas; uma a nível nacional, outra a nível local. A nível nacional, o agravamento da austeridade evitará certamente que haja cada vez mais obesos. Aqui pela cidade, são tantos a chorar cada vez mais, que os donos da RENOVA devem pular de contentes, pois a venda de lenços de papel deve ter aumentado muito. E vai continuar a aumentar. Infelizmente!

Um abraço fraterno,

António Rebelo

Unknown disse...

Para José Esperança:

Tenha em conta que a senhora que cita está radicada no Canadá anglófono desde os anos 70, vivendo por conseguinte muito longe da União Europeia e num ambiente eurocéptico. Na verdade a UE preocupa-se com as coisas concretas, como demonstram os milhões e milhões de euros dados a Portugal, que na maior parte foram mal gastos e mal ganhos. De forma que agora o que está em causa é encontrar um modo de controlar o sul gastador (Portugal, Espanha, Itália, Grécia, de maneira e evitar a repetição de crises como a actual, uma vez que o Norte rico e poupado (Alemanha, Benelux, Escandinávia) cansou-se de sustentar gulosos à boa vida. Fazia lá algum sentido que os contribuintes alemães, cujas reformas eram e são aos 67 anos, andassem a pagar para gregos com reformas aos 58/60 anos, ou italianos e franceses, com reformas aos 60? Haja um bocadinho de decência!

Desejo-lhe um 2011 o menos mau possível!

A.R.

Anónimo disse...

Boa tarde. Em 1998 escrevi um artigo longo que foi publicado num jornal local sobre o que era e é o Aqueduto dos Pegões. Veio na altura, isso a propósito, dado que um cidadão resolveu, de mote próprio fazer um enorme rombo no Aqueduto, algo que podia enquadrado na Lei do Património de 1985 e punido através da lei geral do Estado, dado que a lei de 1985 nunca foi regulementada. Será que me podem dizer qual foi a punição do cidadão que prevaricou? Melhor, quem me ajuda a lembrar do último cidadão que foi punido por atentado ao património cultural e histórico?
Em Espanha, logo aqui ao lado, em Madrid (coisa que fica a cerca de 500 km) entrei numa das vezes que lá fui e vi uma enorme tela do Ticiano e um letreiro dizendo que foi adquirido pelo Estado como forma de pagamento de impostaos em atraso. Acham que tal se faria cá com a apetência cega e desvairada do Estado pelo dinheiro dos cidadãos.
O BPN parece que tem uma colecção de arte. Falou-se nela e viram-se umas fotos. Depois de se enterrar lá 4 800 000 000 de euros (julgo que são estes zeros todos que é coisa que me confunde) já viram o Estado dizer que essa colecção fica nas mãos do Estado como forma de primeiro ressarcimento?
Em 2007 para o Estado adquirir parte do arquivo do Costa Cabral andou a fazer um choradinho mas não me lembro de tal choradinho para uns Mercedes, BMW's e afins (sempre com a desculpa do leasing e tal..). E não á-de este título de blog "Património e Quimeras" ser bom. Devia ser mau devia mas a verdade é que o Prof. António Rebelo tem razão.
O IGESPAR anda onde? Bom, anda como anda depois de se ter fundido com a DGEMN (Direcção-Geral dos Edifícios e Monumento Nacionais). Dizem que foi tomada de assalto por alguém. Quem será??
Um voto de Boas Festas.
Ernesto Jana

Anónimo disse...

Como é engraçado vê-los, ostensivamente,a trocar miminhos,nos blogues de ambos.

Parecem "cavalos" de cortesias em cerimonial barrôco...

Afinal são farinha (ou farelo) do mesmo saco,só que de moeduras diferentes...

Falta o despolido Ff para a cerimónia ficar completa.

Tô certo ou tô errado?

Anónimo disse...

Professor, concordo: "a UE preocupa-se com as coisas concretas, como demonstram os milhões e milhões de euros dados a Portugal". Mas não deveria ter acompanhado (fiscalizando) com maior atenção a aplicação desses milhões? Se o tivesse feito, fechando a torneira na altura própria, se calhar não caído na situação em que nos encontramos...
Desejo-lhe muita inspiração para manter viva esta importante tribuna em 2011!
Cordialmente,
Zé Esperança

Anónimo disse...

Acho um piadão a isto.

Os terrenos da fotografia são PRIVADOS.

A sua venda será, portanto, feita através de um contrato de direito PRIVADO.

A construção do campo de golfe será feita por PRIVADOS.

No meio disto, para que é que vossa excelência vem meter o bedelho ONDE NÃO É CHAMADO, HUM ?

Para sua informação, olhe que o projecto está a avançar mais depressa do que o caríssimo provedor da urbe pensa...

Anónimo disse...

O Pegões MAN está agastado!
E nervoso!

Terá alguma coisa a esconder atrás do PRIVADO?

Será que o dito é mesmo parvo ou está a fingir-se de estúpido?

Porque será que não enxerga que sendo os ditos terrenos a envolvente natural do monumento classificado,património de todos nós,o Estado tem algo a dizer e decidir sobre a sua utilização ?

Mesmo que se tratasse de uma vulgar horta ou de terreno rústico de 6ª categoria,não está acima da Lei e dos Regulamentos,como por ex. o PDM.

Dentro do sacrosanto PRIVADO,imagine que tinham o capricho de lá implantar uma FÁBRICA DE MERDA...

Deixe-se de palermices ULTRA-liberais...!

Anónimo disse...

O que mais me faltava agora era um fantoche do bloco de esquerda a dar-me lições de alguma coisa.

Quando um terreno é privado, se os donos o decidem vender, estão no seu direito, pois a posse e a propriedade são direitos reais, e como tal absolutos. Logo, vossa excelência não tem o direito de meter o bedelho em questínculas que não o integram. Percebeu, ou quer que repita ?

O que vossa excelência tem não é somente uma dose larga de palermice. É também uma gigantesca quantidade de inveja, aquele atributo que enche qualquer tomarense saloio.

Anónimo disse...

Já dizia,e bem,o meu avô :

"Coitado de quem as ouve...quem as diz desabafa".

"Vozes de asno não chegam ao céu..."

e...muito a propósito :

"Com brutates, não labutates"

Ouviste ó pindérico?

E,já agora,pede lá aos teus profs. para te darem umas luzes sobre - O Direito,a Moral e a Política.

Se já te deram algum curso,está na hora de ires à reciclagem... para adultos!

Estás muito escolástico...e depois...sem te aperceberes...fazes figuras tristes!

E dorme bem porque...ao contrário do que proclamas...não sou "caviar" não te quero dar lições de nada.

Sabes porquê?

Porque não vale a pena!

És burro de mais e...como um mal nunca vem só...estás convencido que és uma sumidade.

Chapéus há muitos...seu...p......

Anónimo disse...

Ao Exmº Sr. Anónimo do dia 27/12/2010 das 23.58 tem razão quando diz que o terreno é privado, pode vender o terreno através de contrato a terceiros e ninguém tem nada a ver com isso. Mas o outro senhor também tem razão. Tem que depois ser metido projecto à camara e ver se esta aprova. mas muito importante é a lei em vigor que estipula que em caso de venda o Estado tem direito de opção e o Sr. Anónimo não pode esquecer que para os Monumentos Nacionais funciona uma ZEP (Zona Especial de protecção) de 50 metros e como o Aqueduto está abrangido pela classificação de Património este conceito estende-se até aos 2200 metros em redor do monumento. Muito obrigado.

Anónimo disse...

O mais engraçado é que o plano de pormenor já foi aprovado pela Câmara. Portanto, se a mesma o quiser comprar (o que não vai acontecer), está no seu direito.

Caro amigo, fique lá com os provérbios do seu avô, visto que a sua mentalidade ainda parece ser dessa época.

Cumprimentos e boas festas.